É comum ouvirmos falar sobre um tal custo/benefício de algum produto ou serviço. De modo geral, todo mundo entende que o que se quer dizer é que há uma relação satisfatória entre os benefícios e o preço que se paga por eles.
Até aí, nenhuma novidade.
Se formos para um lado mais matemático, no entanto, poderemos saber exatamente, em números reais e expressivos, a dimensão de tal relação em um determinado produto. Pretendo convencê-los de que a mão invisível de Adam Smith não organizou as parcelas à esmo: há muito da doutrina capitalista nessa inocente fração.
Vamos lá: suponha que você, já imerso no frenesi consumista pré-natalino, vai fazer as compras para o fim do ano. O dinheiro é curto, como sempre, e então você se lembra da fórmula acima e tenta aplicá-la para maximizar suas compras.
Com uma calculadora em mãos, você vai de loja em loja procurando pelos produtos mais baratos e com o melhor benefício, mas logo nota uma propriedade curiosa de tal equação: para obter-se um custo/benefício alto, ou seja, para que o resultado da fração seja o maior possível, é preciso que o numerador seja maior do que o denominador, certo?
Em outras palavras, é preciso que o custo seja maior do que o benefício para que a relação resulte em um número mais expressivo. Em português bem claro: quanto mais você pagar, melhor.
E a lavagem cerebral capitalista não pára por aí.
Apesar de vivermos nesse caótico mundo pós-moderno ultraconsumista, de vez em quando temos sorte. Suponhamos, mais uma vez, que você, já desiludido e bradando ofensas à progenitora de Adam Smith, acabe encontrando, esquecido no chão por alguém muito apressado, um presente qualquer.
Pega-o e pensa, esboçando um sorriso: "isso sim é custo/benefício!" E exclama um palavrão qualquer.
Mas é aí que você se engana. Ao encontrar o presente esquecido na calçada, não houve gastos, o que significa que o custo dele foi zero, e você teve apenas os benefícios. Para qualquer pessoa normal, esta seria uma relação perfeita. Mas qual! Quantifique os benefícios e faça as contas: com o numerador igual à zero, independentemente do quão sensacional for o objeto encontrado, a relação custo/benefício será igual a zero.
Ganhar ou encontrar coisas é mesmo um péssimo negócio...
Essa faceta perversa da matemática capitalista deve ser parte de um plano sutil e malicioso de se imputar nas cabeças de nossas crianças que o bom não é ganhar presentes, mas comprá-los.
A tendência, se formos seguir tal raciocínio, é que num futuro próximo a figura do Papai Noel (símbolo máximo do consumo) modificar-se-á um pouco para se adequar à essa matemática tendenciosa que rege o mundo: é possível que o bom velhinho passe a visitar as residências em horário comercial, empunhando não um saco cheio de presentes, mas uma máquina de cartão de crédito para que as crianças possam comprá-los -- e eles seriam entregues em até dois dias úteis, com o frete incluso no preço, graças ao eficiente e secular sistema de renas e trenós.
(É importante salientar que, nesse mesmo futuro próximo, toda criança terá, além de um celular, o seu próprio cartão de crédito, para que aprendam desde cedo os verdadeiros valores da sociedade.)
As crianças menos abastadas poderão parcelar o presente em até 12 vezes, com juros módicos, comprometendo-se a depositar sua mesada na conta do senhor Noel, no paraíso fiscal da Lapônia. Aqueles que não conseguirem arcar com as dívidas até o natal seguinte, devem pedir a falência pessoal e terão todos os seus brinquedos confiscados e destruídos.
Caso o dinheiro da mesada não seja o bastante, receberão junto com a primeira fatura um pequeno Guia do Empreendedor Juvenil, ou algo que o valha, e uma caixinha de balas para que estejam aptas a iniciar seu próprio negócio, vendendo guloseimas nos semáforos para aqueles que compram seus presentes à vista...
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