
SALMO DO HOMEM SOZINHO
Assim de dia
como de noite
cristão sozinho
no reino da multidão
leva seu nome sua fome
sua paixão sua vida
e a não sabida hora da morte.
O homem entre muitos
leva sozinho
sua sólida vida
de pedra e de cal.
Leva na pedra do coração
seu deus de sombra desmoronado.
Leva seu orgulho
o homem sozinho.
Corpo fechado
alma perdida
se deita sozinho
sem medo de assombração.
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PIONEIRA SOCIAL
Maria Solidão
prostituta profissional
desamada pelo dia
espera os milagres da noite.
Ronda os hotéis
patrulha os bares
sofrida enfrenta
a concorrência
dos travestis,
das amadoras.
Nas vias nos eixos
da cidade unânime
de símbolos fálicos,
a noite esta noite
de concreto e neon
é o seu território.
Nesse território
vende frustrações
pois dá só em parte
o que uma mulher
é capaz de dar.
Mas depois lhe pagam
o seu pró-labore
de doenças, dinheiro
desilusão.
Maria Solidão
enganada pela noite
vencida pela vida,
sonha com o descango do dia.
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TRANSEUNTE
Transeunte numa cidade sem ruas,
é apenas um homem, apenas uma mulher.
A vida pesada cai sobre
os seus ombros cansados. Levados
de uma incerteza a outra incerteza,
de uma angústia a outra angústia,
no amargo sonho desta vida
pedindo ao verão o refrigério das sombras.
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CREPÚSCULO
Silencioso
Solitário
Sinistro
Um sol-poente
Celebra o suicídio da tarde.
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A MORTE
A morte aparece
sem fazer ruído.
Senta-se num canto
fica indiferente
com seu ar de calma
absoluta.
Mira longamente
o quarto o retrato
a cama os remédios
postos entre os livros
sobre a mesa escura.
Depois se levanta
sem nenhuma pressa
sem impaciência
retorna ao seu mundo
a morte, de gestos
claros e serenos.
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