domingo, 22 de fevereiro de 2009

FUTEBOL;CARNAVAL;ALIENAÇÃO NACIONAL.



Sempre me perguntaram porque da minha aversão ao futebol e ao Carnaval. Nada tenho contra os dois, manifestações da cultura e da tradição brasileira. Tenho contra é a influencia exacerbada que eles tem sobre as mentes do brasileiro laico.....laico até demais.

Aqui, em Pindorama, com tantos assuntos pertinentes a nossa vida, nossa existência citadina, os brasileiros continuam a se preocuparem em grande parte com os Campeonatos, resultados e a vida dos jogadores. Jogadores estes que na oportunidade que se apresenta, saem do país (que tanto os valoriza) para irem para outras nações fazerem fortuna e até a própria vida.

Não que o futebol não seja útil. Com a demasia de mazelas, abstrair é um recurso da mente humana. O problema é que, no Brasil, esse mesmo esporte virou sinônimo de ALIENAÇÃO, de total obliteração da consciência.!!!!!

Os jogadores não são exemplo nem no que compete à instrução, a educação, já que a maioria não terminou nem o 1º Grau. Em épocas de Copa Mundial, tem local no país que dá meio expediente ou até dispensa para se assistir as partidas da seleção.

Com características como essas, de manter suspenso no tempo um poder de nublar a visão consciente do público, não é de se admirar que a Copa do Mundo e as Eleições para Presidente do Brasil sejam no mesmo ano. Partindo do ponto de que o brasileiro mantém o debate sobre um resultado por dias, até meses depois de ocorrido, imaginem com que cabeça ele vai votar no cargo mais importante da nação!!!!!!

E o Carnaval? Haaaaa....A celebração da Carne.....No Haiti chamam de Mardi Gras....No México o equivalente seria Los Dias de los Muertos!!!!

Aqui, desde tempos antigos o brasileiro lança-se na mais pura letargia do trabalho para poder acompanhar Rei Momo e sua camarilha!!!! Porém como não poderia deixar de ser, na Terra dos Papagaios, Carnaval também aliena. Desde o final do ultimo “pulo” de festa até o próximo mês de fevereiro, o Zé Povinho já esta mencionando, informando-se quando não planejando esse momento.

Mas vocês me perguntariam: “ Mas Reverendo, o Brasil é conhecido mundialmente por esses dois movimentos. E se ambos são de nossas raízes, porque negá-los?”.

E eu responderia: “ Negá-los não!!!!!Ambos são de fato tradicionais e tem sua importância no imaginário popular”.

Mas....e sempre tem um MAS......

Se já somos tão famosos mundo afora por essas duas manifestações, porque não canalizar nossos esforços em outras direções? Porque não sermos conhecidos internacionalmente por nosso sistema educacional ou nossa diplomacia? Ou nossa economia, Historia e genialidade?

Diversificar é a palavra de ordem!!!!!

Uma nação não é medida pelo saldo de gols de sua seleção ou pelo Grêmio vencedor de um desfile!!!Quem dera nossas diferenças e conflitos fossem resolvidos em um campo de futebol ou na Sapucaí.

Temos de nos politizar mais, nos educar mais, participar mais....Ou seja......

Nos tornarmos de fato, cidadãos brasileiros de fato!!!!!

Que assim seja,

Reverendo........Ainda com um fio de esperança e rezando para que a luz no fim do túnel não seja um trem na contramão

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

ALCOÓLICAS


É crua a vida. Alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me
No estreito-pouco
Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.
E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.

O Poeta Inventa Viagem,Retorno e Morre de Saudade

de Hilda Hilst


Se for possível, manda-me dizer:

- É lua cheia. A casa está vazia -

Manda-me dizer, e o paraíso

Há de ficar mais perto, e mais recente

Me há de parecer teu rosto incerto.

Manda-me buscar se tens o dia

Tão longo como a noite. Se é verdade

Que sem mim só vês monotonia.

E se te lembras do brilho das marés

De alguns peixes rosados

Numas águas

E dos meus pés molhados, manda-me dizer:

- É lua nova -

E revestida de luz te volto a ver.



(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974
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HILDA HILST


Hilda Hilst nasceu na cidade de Jaú, interior do Estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930, filha única do fazendeiro, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e de Bedecilda Vaz Cardoso. Com pouco tempo de vida, seus pais se separaram, o que motivou sua mudança, com a mãe, para a cidade de Santos (SP). Seu pai, que sofria de esquizofrenia, foi internado num sanatório em Campinas (SP), tendo nessa época 35 anos de idade. Até sua morte passou longos períodos em sanatórios para doentes mentais.
Hilda Hilst faleceu no dia 04 de fevereiro de 2004, na cidade de Campinas (SP).

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Palestina: O governo brasileiro deve seguir o exemplo da Venezuela


O governo da Venezuela assumiu uma atitude clara frente ao conflito. Desde um primeiro momento manifestou apoio ao povo palestino. Além de expulsar o embaixador israelense, na declaração de 6 de janeiro, o governo venezuelano declarou que "nesta hora trágica e indignificante, o povo da Venezuela manifesta sua solidariedade irrestrita ao heróico povo palestino, comunga a dor que assola milhares de famílias pela perda de seus entes queridos, e estende-lhe a mão afirmando que o governo venezuelano não descansará até ver severamente castigados os responsáveis por estes crimes atrozes".

O Governo brasileiro, por meio do Itamaraty, ao contrário, lançou um comunicado no início da ofensiva apenas "deplorando" a reação "desproporcional" de Israel. Nesta semana o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim foi à zona de conflito onde se reuniu com a chanceler israelense Tzipi Livni. De acordo com o que informa a imprensa, Amorim disse que "expressou as discordâncias do Brasil em relação à ofensiva, novamente considerando-a desproporcional". Em uma reportagem veiculada no domingo no Jornal da Noite, o chanceler ressaltou inclusive que o Mercosul era um parceiro comercial de Israel, com o qual havia assinado um importante acordo bilateral. Ontem mesmo, Amorim afirmou que o Brasil "condena o terrorismo", mas ressaltou que "ninguém pode ficar indiferente à morte de tantos civis".

Os fatos são contundentes sobre quem são os terroristas e quais são os objetivos perseguidos por Israel.

O ataque brutal de 17 dias das forças armadas israelenses, já causou mais de 900 mortes, boa parte delas de crianças e idosos, num desastre humanitário descomunal. Sem água corrente, com escasso abastecimento de alimentos, sem calefação, confinados ao espaço da Faixa de Gaza, sem capacidade para curar os feridos, um milhão e meio de habitantes se encontra em uma situação inconcebível para a vida humana. O bombardeio e a invasão a Gaza são o corolário do bloqueio criminoso que há três anos cerca Gaza e que tem transformado seu território em ruínas. Destruir o povo de Gaza, esse tem sido o objetivo de Israel, caracterizado pela chancelaria brasileira somente como um ação desproporcional.

A reação mundial frente ao massacre genocida está se fazendo sentir cada vez e com mais força. Dezenas de milhares têm saído às ruas em Madrid, Paris, Londres, Bruxelas exigindo o fim dos ataques de Israel e apoiando também as mobilizações multitudinárias nos países árabes. No Brasil se formaram comitês e começam a ocorrer inúmeras manifestações. O PSOL participa de maneira concreta deste esforço mobilizador, demonstrando sua solidariedade de forma ativa.

O PSOL exige que o governo brasileiro mude sua atitude e assuma uma posição ativa de apoio a causa palestina, seguindo no campo diplomático os passos da Venezuela.

Executiva Nacional do PSOL

PODRES PODERES "ENCASTELADO NO PODER"


Ele é deputado federal e seu nome é Edmar, mas gosta mesmo é de terra, muita terra. Tanta, que possui uma fazenda de mais de 190 ha no município de São João Nepomuceno, no estado de Minas Gerais, que como todos sabemos, não tem saída para o mar.

Por um desses infortúnios da vida sua propriedade foi mostrada aos quatro cantos deste planeta esférico e abriga um castelo memorável, com muitos quartos, suítes, salas, além de chafariz, lago artificial, piscina com cascata e capela. Já hospedou presidente e até os casais enamorados tiram fotos para o álbum de núpcias. São 7.500 metros quadrados de área construída, mais do que muitos castelos medievais europeus.

A “descoberta” da construção monumental, erguida em meio às colinas da Serra da Mantiqueira, permite reflexões que ilustram a quantas andam a representação política no Brasil.

Edmar Moreira foi eleito internamente para segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, e herdou por força regimental a Corregedoria do órgão. Prerrogativa do cargo, seu papel seria então o de fiscalizar, orientar e punir comportamentos inadequados dos seus pares, em outras palavras, dar um pega naqueles que, por exemplo, não declaram seus bens à Receita Federal ou que são devedores aos cofres públicos. Incumbido foi de uma função que exigia lisura e bom comportamento. Decepcionou desde a primeira hora.

Seu histórico político partidário já seria suficiente para não estar onde esteve. Foi eleito deputado federal em 1991 na onda Collor e pelo seu partido, o PRN. Surfou na aventura do Presidente "fashion", que foi um desastre como Presidente, mas um marco no mundo "fashion". Quando a fantasia acabou ele se foi em 1992 para o PP; em 1995 para o PPB; 2003 para o PL; 2005 para o PFL e em 2007 para o DEMO. Coerência a toda prova, jamais abandonou a direita conservadora.

Sua produtividade parlamentar também deve ter servido como parâmetro para chegar à mesa diretora. Em 2005 apresentou seu último projeto de lei cujo artigo primeiro sentencia: “Fica criado o Serviço Voluntário de Capelania Carcerária em toda unidade carcerária do Sistema Penitenciário dos Estados, objetivando o atendimento espiritual e religioso aos presos, internados e seus familiares, assim como aos profissionais de segurança, respeitada, sempre, à vontade dos mesmos”. É a sua grande contribuição ao falido sistema prisional brasileiro.

Além da bondade que reina em seu coração é também um homem de família. Afirma que em 1993 passou todos bens para seus filhos. Uma ação de amor paterno, mas que deixa um cheiro de desconfiança no ar.

Sua irmã foi reeleita em 2007, pelo PSDB, prefeita da cidade. São João Nepomuceno arrecadou com IPTU em 2006 R$ 568 mil, e se em sua propriedade, que parece valer cerca de R$ 25 milhões, fosse aplicado uma alíquota de 1% (aceitável para um patrimônio deste porte), seria quase metade do que toda a cidade recolhe, num único imóvel. Mas como o imóvel está em área rural o imposto devido é o ITR, que no Brasil é inexpressivo.

O Vice-Prefeito José Maria Ribeiro Sampaio ajuda a entender outras questões. Sua origem política está no PMDB, migrou para o PSDB e depois para o PPS. Entrou para o PT e é hoje o segundo nome na linha de poder da cidade. Tem responsabilidade, portanto, na isenção de IPTU do castelo, pois também já foi presidente da Câmara Municipal, líder do governo na Câmara e secretário municipal.

A coluna painel da Folha de S. Paulo publicou neste oito de fevereiro: “Amigos... A declaração favorável do novo líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza, sobre o deputado Edmar Moreira (DEM-MG) tem respaldo na bancada. Mesmo reservadamente, petistas se recusam a dizer um "ai" sobre o "dono do castelo.”

Continua a mesma coluna: “... de longa data. A boa relação é antiga. Além de ter votado pela absolvição de deputados petistas acusados no "mensalão", Moreira foi favorável à CPMF, mesmo sendo de partido da oposição”. Deu para entender? E o pior é que pesam sobre o deputado denúncias de ligação com a ditadura militar e tortura de presos políticos, mas o passado pode ser apagado em nome da governabilidade do presente e o poder no futuro.

Pelo seu histórico recebeu ainda várias homenagens. É cidadão honorário de três cidades mineiras, ganhou a “Brigadeiro Tobias” da Polícia Militar de São Paulo e a Comenda Universitária da Federal de Itajubá dentre outras tantas condecorações. É o gosto pela fantasia travestida de seriedade.

O apego piegas por honrarias remonta aos títulos de nobreza do período colonial brasileiro, de onde se originam também outras características não menos importantes da elite nacional. Economicamente patrimonialista e extravagante em seus hábitos, faz o delírio de empresas dedicadas ao mercado da ponta do topo da pirâmide. Somos linha de frente nas vendas de Ferrari, jóias e perfumes caros, pela frota de helicópteros, dentre outras quimeras. É a reprodução moderna do binômio Casa Grande e Senzala: na economia o casamento forçado, no social o divórcio litigioso.

Os antigos Barões e Coronéis são hoje os caciques regionais e nacionais, geradores de uma tensão permanente entre o fisiológico poder pessoal e a organização partidária. Por isso vivemos uma oscilação permanente entre a construção de formas mais avançadas de representação política e participação popular e a manutenção desta arcaica estrutura de poder, sintetizada em partidos de pessoas.

No Brasil a sopa de letrinhas ganhou maizena com a incorporação do PT ao caldo. Recentemente o Planalto apoiou José Sarney para a presidência do Senado Federal, isolando Tião Viana que é do partido do presidente Lula, e que por sua vez foi apoiado pelo PSDB. Assim como Sarney, Collor hoje também faz parte da base de sustentação do governo no Senado. Quem mudou de lado?

A aversão ao recolhimento de valores ao fisco também vem de longa data. Juntar bens e não pagar os impostos devidos é outra faceta do enriquecimento fácil, e por isso mesmo o imposto sobre as grandes fortunas não avança no país das grandes fortunas. Nem mesmo um brasileiro que passou a vida inteira as atacando fez força para implantá-lo quando chegou à presidência. A elite dirigente sequer é Republicana neste sentido, não tem um projeto de nação, a não ser pilhar a riqueza nacional e gastar em extravagância, seja aqui ou em Miami, em vestidos de grife ou viagens à Disneilandia.

A superação deste quadro é possível e necessária, mas não se resolve na base das lamúrias. É preciso mobilização social de baixo para cima para enfrentar os escândalos que se sucedem. Reclamos insistentes com o vizinho, indignação de sofá e cuspir respostas mecânicas como “ninguém presta” e “político é tudo ladrão”, só colaboram para ampliar o distanciamento das pessoas da participação política na definição dos rumos do país, que é tudo que os donos do poder querem. O remédio é exatamente o contrário: protestar organizadamente contra este estado de coisas, agir politicamente a favor de uma reforma que fortaleça os partidos e enfraqueça os coronéis, diferenciar a banda podre da banda sadia do parlamento. Enfim, tornar os brasileiros verdadeiros protagonistas das mudanças necessárias.

O brasão do município de São João Nepomuceno, que é o padroeiro contra a calúnia, estampa a frase: Ecce Agnus Dei – “Esse é o Cordeiro de Deus”. Será que Edmar Moreira passa pelo buraco da agulha?

Ricardo Alvarez
Geógrafo, e professor.

H. DOBAL



SALMO DO HOMEM SOZINHO

Assim de dia
como de noite
cristão sozinho
no reino da multidão
leva seu nome sua fome
sua paixão sua vida
e a não sabida hora da morte.

O homem entre muitos
leva sozinho
sua sólida vida
de pedra e de cal.

Leva na pedra do coração
seu deus de sombra desmoronado.
Leva seu orgulho
o homem sozinho.
Corpo fechado
alma perdida
se deita sozinho
sem medo de assombração.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
PIONEIRA SOCIAL

Maria Solidão
prostituta profissional
desamada pelo dia
espera os milagres da noite.

Ronda os hotéis
patrulha os bares
sofrida enfrenta
a concorrência
dos travestis,
das amadoras.

Nas vias nos eixos
da cidade unânime
de símbolos fálicos,
a noite esta noite
de concreto e neon
é o seu território.

Nesse território
vende frustrações
pois dá só em parte
o que uma mulher
é capaz de dar.
Mas depois lhe pagam
o seu pró-labore
de doenças, dinheiro
desilusão.

Maria Solidão
enganada pela noite
vencida pela vida,
sonha com o descango do dia.
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

TRANSEUNTE

Transeunte numa cidade sem ruas,
é apenas um homem, apenas uma mulher.
A vida pesada cai sobre
os seus ombros cansados. Levados
de uma incerteza a outra incerteza,
de uma angústia a outra angústia,
no amargo sonho desta vida
pedindo ao verão o refrigério das sombras.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
CREPÚSCULO

Silencioso
Solitário
Sinistro
Um sol-poente
Celebra o suicídio da tarde.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

A MORTE

A morte aparece
sem fazer ruído.

Senta-se num canto
fica indiferente
com seu ar de calma
absoluta.
Mira longamente
o quarto o retrato
a cama os remédios
postos entre os livros
sobre a mesa escura.

Depois se levanta
sem nenhuma pressa
sem impaciência
retorna ao seu mundo
a morte, de gestos
claros e serenos.

HINDEMBURGO DOBAL


Hindemburgo Dobal Teixeira é de Teresina (17 de outubro de 1927). Curso secundário no antigo Liceu. Bacharelou-se em Direito na turma de 1952 da Falcudade de Direito do Piauí, tendo sido o orador. Diretor da Revista Meridiano, figura líder da geração vanguardista, tornou-se um poeta respeitado no Brasil inteiro. Fez concurso para Fiscal do Imposto de Consumo do Ministério da Fazenda; membro do Conselho de Contribuites e professor da Escola Superior de Legislação Fazendária, em Brasília. No Governo Médici fez parte da comissão que reestruturou todo o sistema tributário nacional. Posteriormente, comissionado pelo Ministéio da Fazenda, fez cursos e estágios em Londres e Berlim, sendo um dos mais brilhantes e competentes técnicos em legislação e Técnica Fazendária, no país. Membro da Academia Brasiliense de Letras.
Em 1969 Hindemburgo Dobal Teixeira ganhava, com O Dia Sem Presságios, o Prêmio Jorge de Lima (poesia) do Instituto Nacional do Livro. Mas nem sempre a obra premiada é o melhor instante do escritor. "O Tempo Consequente", editado em 1966, é ainda o melhor momento da poesia deste notável poeta.

Obras: O Tempo Consequente (1966); O Dia Sem Presságios (Premio Jorge de Lima, 1970); A Viagem Imperfeita (1973); A Província Deserta (1974); A Serra das Confusões (1978); A Cidade Substituída (1978); El Matador (folhetim, 1980); Os Signos e as Siglas (1978); Cantigas de Folhas (1989).

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

SOBRE A VIOLÊNCIA


Bertold Brecht



A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contem
Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas
É tida como violenta
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua?

Bertold Brecht


Bertold Brecht

Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis


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Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem


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O Vosso tanque General, é um carro forte

Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar


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Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas


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Elogio da Dialéctica

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nòs queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nòs
De quem depende que ela acabe? Também de nòs
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aì que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã


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Dificuldade de governar

1

Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

2

E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3

Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4

Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?


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Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

Sobre arte, política e resistência


Nesta semana, o dramaturgo, poeta e encenador alemão Bertold Brecht completaria 120 anos se estivesse vivo. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro contemporâneo na década de 50 e inauguraram uma outra forma de conceber e realizar essa manifestação artística.

Marxista, uma de suas grandes influências foi o teatro experimental feito na Rússia soviética, durante os anos de Revolução, entre 1917 e 1926. Brecht explorava o teatro como um fórum de discussões das complexas relações humanas dentro do sistema capitalista, criando uma versão para o drama épico, a partir de uma estética marxista.

Muita gente não sabe, mas as manifestações artísticas fazem parte de todas as atividades coletivas do MST. E uma de suas formas mais presente é o teatro.

Organizados na Brigada Nacional de Teatro Patativa do Assaré, do coletivo de cultura do Movimento, o MST possui hoje cerca de 38 grupos teatrais que atuam em todo o Brasil. Muitos deles já atuantes antes mesmo da formação da Brigada. O teatro existe no Movimento como manifestação estética espontânea desde a origem do MST, juntamente com a música, a poesia e as artes plásticas.

A organização dos grupos incentivou a reflexão sobre o teatro e sedimentou como tarefa do Movimento o pensar sobre a forma de se fazer teatro, sua estética e sua função. O desafio levou a Brigada ao encontro com as idéias e práticas de Bertold Brecht.

O contato com Brecht ajudou a alcançar os objetivos de fazer da manifestação artística também uma ferramenta de conscientização política. “Temos o dever, enquanto militantes de esquerda, de denunciar e combater esse sistema que nos suga com intensidade, seja na forma do combate corpo a corpo, seja na forma intelectual. Como o realizou Brecht, em seus tempos, questionando o sistema desnaturalizando-o, também nós devemos fazê-lo, sem tréguas”, explica a educanda de Licenciatura em Educação do Campo da UnB (Universidade de Brasília), Ingrid Elisabete Pranke.

Segundo ela, repousar apenas no âmbito da denúncia, não solucionará os problemas. Há que se pensar em meios fortes, nos quais possamos depositar energias almejando a transformação. “Um exemplo disso pode estar em nos apropriarmos das obras, tanto literárias, quanto visuais porque estes também são, entre outros, materiais em disputa. E, dependendo de quem os utiliza, poderá e o fará de modo acrítico, alienando as pessoas, para a continuidade da dominação ou, desenvolver esses materiais de modo a construir sujeitos capazes de agir contra a opressão que se apresenta”, pontua.

As teorias e práticas de Brecht também trouxeram mais precisão ao trabalho teatral dos Sem Terra. Um bom exemplo é o caso do grupo Utopia, que atua desde 1999 no ainda então acampamento 17 de Abril, do município de Nova Andradina, no Mato Grosso do Sul.

Alessandra Silva, membro do coletivo de cultura do MST e integrante do grupo, conta que o Utopia foi formado a partir de experiências teatrais apropriadas da Igreja. O trabalho se voltava principalmente para realização de místicas e aberturas de festas e celebrações do acampamento. Algo que ainda acontece hoje, mas que tomou outras dimensões desde a constituição da brigada Patativa do Assaré e do contato com Brecht.

Alessandra relata que antes desse contato as peças eram trabalhadas mais como entretenimento do que como ferramenta de formação. “Às vezes nos víamos até reforçando os preconceitos e idéias que queríamos com as peças abolir. O trabalho com Brecht ajudou a contornar esse problema. Ajudou a fazer um teatro que cause indignação, que faça com que as pessoas levem algum pensamento consigo”, explica.

No ano em que o Utopia completa dez anos de realização, o coletivo de cultura do MST – MS se prepara agora para iniciar uma oficia de teatro, voltada para os assentados e acampados, com previsão para acontecer durante todo o ano de 2009. “A idéia é começar a formar o pessoal nos próprios assentamentos e acampamentos, para dar conta das demandas das diferentes regiões”, completa Alessandra.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

METADE (Oswaldo Montenegro)


e que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio
e que a morte de tudo que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio

que a música que eu ouço ao longe
seja linda, ainda que tristeza
que a mulher que eu amo seja pra sempre amada,
mesmo que distante
porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade

que as palavras que eu digo
não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas
como a única coisa que resta a um homem
inundado de sentimento
porque metade de mim é o que eu ouço
mas a outra metade é o que calo

que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
porque metade de mim é o que eu penso
e a outra metade é um vulcão

que o medo da solidão se afaste
que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
que eu me lembre ter dado na infância
porque metade de mim é a lembrança do que fui
e a outra metade eu não sei

que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito
e que o teu silêncio
me fale cada vez mais
porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço

que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer
porque metade de mim é a platéia
e a outra metade é a canção

e que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade
também

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Biografia BOB MARLEY



O ano de 1945 foi um grande ano. Foi em 45 que, depois de nove anos de uma guerra que matou milhões de pessoas em todo o mundo, finalmente a paz voltou a reinar na Terra. Em todos os cantos do planeta as pessoas se abraçaram e puderam comemorar o final do mais triste episódio da história da humanidade. Milhares de filhos voltaram para suas casas, famílias se reencontraram e a construção de um novo tempo começou. Entretanto, em 1945 houve outro grande acontecimento, que só alguns moradores da pequena vila de Nine Mile, interior rural da Freguesia de St. Ann (Santa Ana), no norte da Jamaica, comemoraram. Foi no dia 6 de fevereiro desse ano que lá nasceu o menino Robert Nesta Marley, filho de Cedella Booker, uma garota negra de apenas dezoito anos, e do Capitão Norval Marley, do Regimento Britânico das Índias Ocidentais, um inglês branco de 50 anos de idade que, devido a pressões de sua família na Inglaterra, apesar de ajudar financeiramente pouco conheceu o filho. Mas para entender melhor a história desse menino é preciso voltar um pouco mais no tempo.

Apesar da escravidão ter sido abolida na Jamaica em 1834, aqueles dias de sofrimento ainda estão na memória dos descendentes de africanos e, misturados com os costumes ingleses, fazem parte da cultura da ilha. Já no começo do século passado a herança africana começava a ter expressão política com Marcus Garvey, um pastor jamaicano que fundou a Associação Universal para o Desenvolvimento do Negro. A organização defendia a criação de um país negro, livre da dominação branca, na África, que recebesse de volta todos os descendentes de africanos exilados na América. Foi inclusive com esse intuito que Garvey chegou a fundar uma companhia de navegação a vapor, a Black Star Line. Mas Marcus Garvey é lembrado na Jamaica também por outro motivo. O pastor, nas suas pregações, costumava repetir uma profecia que logo se espalhou entre a população negra. Ele dizia que logo na África surgiria um Rei negro, o 225º descendente da linhagem de Menelik, o filho do rei Salomão e da rainha de Sabá, que libertaria a raça negra do domínio branco. Anos depois esse rei apareceu. Em 1930 Ras Tafari Makonnen foi coroado Imperador da Etiópia e passou a se chamar Hailè Selassiè. No mesmo momento, os seguidores de Garvey na Jamaica passaram a acreditar que a profecia houvesse sido cumprida e começaram uma nova religião chamada Rastafari. Anos mais tarde, essa religião seria espalhada pelo mundo através da música de um menino chamado Bob Marley.

Por volta da década de 50, a capital Kingston era a terra dos sonhos dos habitantes das zonas rurais da Jamaica. Apesar da cidade não ter muito trabalho a oferecer, multidões se dirigiam para lá para fatalmente engrossarem a população das favelas que já cresciam no seu lado oeste. A maior e mais miserável dessas favelas era Trench Town (ou Cidade do Esgoto), assim chamada por ter sido construída sobre as valas que drenavam os dejetos da parte antiga de Kingston. E foi para lá que Dona Cedella se mudou junto com seu filho no final dos anos 50. O menino cresceu nesse ambiente junto com outros meninos de rua e, em especial, seu amigo Neville O’Riley Livingston, mais conhecido como Bunny, com quem começou a tocar latas e guitarras improvisadas em casa. O som que os dois garotos faziam era influenciado pelas emissoras do sul dos Estados Unidos que conseguiam captar nos seus rádios e que tocavam músicas de artistas como Ray Charles, Curtis Mayfield, Brook Benton e Fats Domino, além de grupos vocais como The Drifters que tinham muita popularidade na Jamaica. Nessa época, Bob conseguiu um emprego numa funilaria, mas já tinha a música como grande objetivo de sua vida. A busca desse objetivo ganhou dedicação exclusiva quando uma fagulha da solda com que trabalhava queimou seu olho. O acidente não teve gravidade mas o fez largar o emprego e investir unicamente no aperfeiçoamento da sua música com Bunny. Eles eram ajudados por Joe Higgs, um cantor que apesar de já possuir uma certa fama na ilha ainda morava em Trench Town e dava aulas de canto para iniciantes. Numa dessas aulas Bob e Bunny conheceram outro jovem músico chamado Peter McIntosh. Em 1962 Bob Marley foi escutado por um empresário musical chamado Leslie Kong que, impressionado, o levou a um estúdio para gravar algumas músicas. A primeira delas “Judge Not” logo foi lançada pelo selo Beverley’s. No ano seguinte Bob decidiu que o melhor caminho para alcançar o sucesso era em um grupo, chamando para isso Bunny e Peter para formar os "Wailing Wailers". O novo grupo ganhou a simpatia do percussionista rastafari Alvin Patterson, que os apresentou ao produtor Clement Dodd. Na metade de 1963 Dodd ouviu os Wailing Wailers e resolveu investir no grupo. O ritmo da moda na Jamaica então era o Ska que, com uma batida marcada e dançante, misturava elementos africanos com o rhythm & blues de New Orleans e que tinha Clement “Sir Coxsone” Dodd como um dos seus mais famosos divulgadores. Os Wailing Wailers lançaram o seu primeiro single, “Simmer Down”, pela gravadora Coxsone no fim de 1963 e em janeiro a música já era a mais tocada na Jamaica, permanecendo nessa posição durante dois meses. O grupo então era formado por Bob, Bunny, Peter, Junior Braithwaite e dois backing vocals, Beverly Kelso e Cherry Smith.

Nessa época chegou pelo correio a passagem que Dona Cedella, que tinha se casado novamente e mudado para Delaware nos Estados Unidos, conseguiu comprar após muito esforço para juntar dinheiro. Ela desejava dar a Bob uma nova vida na América, mas antes da viagem ele conheceu Rita Anderson e em 10 de fevereiro de 1966 eles se casaram. Marley passou apenas oito meses com a mãe antes de retornar à Jamaica, onde começou um período que teve importância especial no resto de sua vida. Bob chegou em Kingston em outubro de 66, apenas seis meses depois da visita da Sua Majestade Imperial, o Imperador Hailè Selassiè, da Etiópia, que trouxe nova força ao movimento Rastafari na ilha. O envolvimento de Marley com a crença Rastafari também estava crescendo e, a partir de 67, sua música começou a refletir isso. Os hinos dos Rude Boys deram lugar a uma crescente dedicação às canções espirituais e sociais que se tornaram a pedra fundamental do seu real legado. Bob, então, convidou Peter e Bunny para novamente formarem um grupo, dessa vez chamado “The Wailers”. Rita também começava sua carreira como cantora com um grande sucesso chamado “Pied Piper”, um cover de uma canção pop inglesa. A música jamaicana, entretanto, havia mudado. A frenética batida do Ska estava dando lugar a um ritmo mais lento e sensual chamado Rock Steady. A nova crença Rastafari dos Wailers os colocou em conflito com Coxsone Dodd e, determinados a controlar seu próprio destino, os fez criar um novo selo, o Wail’N’Soul. Mas, apesar de alguns sucessos, os negócios dos Wailers não melhoraram muito e o selo faliu no fim de 1967. O grupo sobreviveu, entretanto, inicialmente como compositores de uma companhia associada ao cantor americano Johnny Nash que, na década seguinte, teria um grande sucesso com “Stir It Up”, de Bob.

Os Wailers então conheceram um homem que revolucionaria o seu trabalho: Lee Perry, cujo gênio produtivo havia transformado as técnicas de gravação em estúdio em arte. A associação Perry / Wailers resultou em algumas das melhores gravações da banda. Músicas como “Soul Rebel”, “Duppy Conqueror”, “400 Years” e “Small Axe” se não foram clássicos definiram a direção futura do reggae. Em 1970, Aston 'Family Man' Barrett e seu irmão Carlton (baixo e bateria, respectivamente) se uniram aos Wailers. Eles eram o núcleo da banda de estúdio de Perry e haviam participado de várias gravações do grupo. Os irmãos eram conhecidos como a melhor seção rítmica da Jamaica, status que continuariam ostentando pela década seguinte. Os Wailers eram então reconhecidos como grande sucesso no Caribe, mas internacionalmente continuavam desconhecidos.

No verão de 1971 Bob aceitou o convite de Johnny Nash para acompanhá-lo à Suécia, ocasião em que assinou contrato com a CBS, que também era a gravadora do americano. Na primavera de 72 todos os Wailers já estavam na Inglaterra, promovendo ostensivamente o single “Reggae on Broadway”, mas sem alcançar bom resultado. Como última tentativa Bob entrou nos estúdios da Island Records, que havia sido a primeira a dar atenção ao crescimento da música jamaicana, e pediu para falar com o seu fundador, Chris Blackwell. Blackwell conhecia a fama dos Wailers e o grupo estava fazendo uma proposta irrecusável. Eles estavam adiantando 4 mil libras para gravar um álbum e para que, pela primeira vez, uma banda de reggae tivesse acesso as mais avançadas técnicas de gravação e fosse tratada como eram as bandas de rock da época. Antes dessa proposta as gravadoras achavam que um grupo de reggae só vendia em singles ou compilações com várias bandas. O primeiro álbum dos Wailers, “Catch A Fire” quebrou todas as regras: era lindamente embalado e fortemente promovido. Era o começo de um longo caminho à fama e ao reconhecimento internacional. Embora “Catch A Fire” não tenha sido um hit instantâneo, o álbum teve um grande impacto na mídia. O ritmo marcante de Marley, aliado às suas letras militantes vinham com total contraste ao que estava sendo feito então. Além disso, a Island promoveu uma turnê do grupo na Inglaterra e nos Estados Unidos, o que era uma completa novidade para uma banda de reggae. Os Wailers chegaram em Londres em abril de 73, embarcando numa série de apresentações que mostraria sua qualidade como banda de shows ao vivo. Entretanto, após três meses, o grupo voltou à Jamaica e Bunny, desencantado com a vida na estrada, se recusou a tocar na turnê americana. No seu lugar entrou Joe Higgs, o velho professor de canto dos Wailers. A turnê americana incluía, além de algumas casas de show, a participação em alguns shows de Bruce Springsteen e Sly & The Family Stone, a principal banda de música negra americana do momento. Mas depois de quatro shows ficou claro que colocar os Wailers abrindo espetáculos poderia ser ruim para as atrações principais. A banda foi então para San Francisco, onde a rádio KSAN transmitiu uma apresentação ao vivo que só foi publicada em 1991, quando a Island lançou o álbum comemorativo “Talkin’ Blues”. Em 73 o grupo também lançou o seu segundo álbum pela Island, “Burnin’”, um LP que incluía novas versões de algumas das suas mais velhas músicas, como: “Duppy Conqueror”, “Small Axe” e “Put It On”, junto com faixas como “Get Up, Stand Up” e “I Shot The Sheriff” (que no ano seguinte se tornaria um enorme sucesso mundial na voz de Eric Clapton, alcançando o primeiro lugar na lista dos singles mais vendidos nos Estados Unidos). Em 74 Marley passou uma grande parte do seu tempo no estúdio trabalhando nas sessões que resultaram em “Natty Dread”, um álbum que incluía músicas como “Talkin’ Blues”, “No Woman No Cry”, “So Jah Seh”, “Revolution”, “Them Belly Full (But We Hungry)” e “Rebel Music (3 o’clock Roadblock)”. No início do próximo ano, entretanto, Bunny e Peter deixariam definitivamente o grupo para embarcar em carreiras solo enquanto a banda começava a ser conhecida por Bob Marley & The Wailers. “Natty Dread” foi lançado em fevereiro de 75 e logo a banda estava novamente na estrada. A composição harmônica perdida com a saída de Bunny e Peter havia sido substituída pelas I-Threes, um trio feminino composto pela esposa de Bob, Rita, além de Marcia Griffiths e Judy Mowatt. Entre os concertos, os mais importantes foram as duas apresentações no Lyceum Ballroom de Londres que até hoje são lembradas entre as melhores da década. Os shows foram gravados e logo o disco, junto com o single “No Woman, No Cry”, estava nas paradas de sucesso. Em novembro, quando Marley voltou a Jamaica para tocar num show beneficiente com Stevie Wonder ele já era obviamente o maior superstar da ilha. “Rastaman Vibrations”, o álbum seguinte, lançado em 76, atingiu o topo das paradas americanas e é considerado por muitos a mais clara exposição da música e das crenças de Bob. O LP incluía músicas como “Crazy Baldhead”, “Johnny Was”, “Who The Cap Fit” e, talvez a mais significativa de todas, “War”, cuja letra foi extraída de um discurso do Imperador Hailè Selassiè, nas Nações Unidas.

Com o sucesso internacional cresceu a importância política de Bob Marley na Jamaica, onde a fé Rastafari expressa por sua música alcançava forte ressonância na juventude dos guetos. Como forma de agradecimento ao povo da ilha, Bob decidiu dar um concerto aberto no Parque dos Heróis Nacionais de Kingston, em 5 de dezembro de 1976. A idéia era enfatizar a necessidade de paz nas ruas da cidade, onde as brigas de gangues estavam causando confusão e mortes. Logo depois do anúncio do show, o governo convocou eleições para o dia 20 de dezembro. Isso deu nova força à guerra no gueto e, na tarde do concerto atiradores invadiram a casa de Bob e o alvejaram. Na confusão os atiradores apenas feriram Marley, que foi levado a salvo às montanhas na cercania da cidade. Entretanto ele resolveu fazer o show de qualquer maneira e subiu ao palco para uma rápida apresentação em desafio aos seus agressores. Foi a última apresentação de Bob na Jamaica por oito meses. Logo após o show ele deixou o país para viver em Londres, onde gravou seu próximo álbum, “Exodus”.

Lançado no verão daquele ano, “Exodus” consolidou o status internacional da banda, ficando nas paradas da Inglaterra por 56 semanas seguidas e tendo seus três singles - “Waiting In Vain”, “Exodus” e “Jammin’” - com grandes vendagens. Em 78 a banda capitalizou novo sucesso com “Kaya”, que alcançou o quarto lugar na Inglaterra logo na semana seguinte do lançamento. O álbum mostrava um novo ângulo de Marley, com uma coleção de canções de amor e, claro, homenagens ao poder da “Ganja”. Do álbum foram extraídos dois singles: “Satisfy My Soul” e “Is This Love”. Ainda em 78 aconteceriam mais três eventos com extraordinária importância para Marley. Em abril ele voltou à Jamaica para o “One Love Peace Concert”, quando fez com que o Primeiro-Ministro Michael Manley e o líder da oposição Edward Seaga se dessem as mãos no palco. Ele foi então convidado para ir à sede das Nações Unidas, em New York, para receber a Medalha da Paz. E, no fim do ano, Bob visitou a África pela primeira vez, indo inicialmente ao Kenya e depois à Etiópia, o lar espiritual Rastafari. A banda havia recém terminado uma turnê pela Europa e América que rendeu o segundo álbum ao vivo: “Babylon By Bus”. “Survival”, o nono álbum de Bob Marley pela Island foi lançado no verão de 1979. Ele incluía “Zimbabwe”, um hino para a Rodésia, que logo seria libertada, junto com “So Much Trouble In The World”, “Ambush In The Night” e “Africa Unite”. Como indica a capa, que contém as bandeiras das nações independentes, “Survival” foi um álbum em homenagem à solidariedade Pan-Africana. Em abril de 1980, o grupo foi convidado oficialmente pelo governo do recém libertado Zimbabwe para tocar na cerimônia de independência da nova nação. Essa foi a maior honra oferecida à banda e demonstrou claramente a sua importância no Terceiro Mundo. O próximo disco da banda, “Uprising”, foi lançado em maio de 80 e teve sucesso imediato com “Could You Be Loved”. O álbum também trazia “Coming In From The Cold”, “Work” e a extraordinária faixa de encerramento, “Redemption Song”. Os Wailers então embarcaram na sua maior turnê européia, quebrando recordes de público pelo continente. A agenda incluía um show para 100 mil pessoas em Milão, o maior da história da banda. Bob Marley & The Wailers eram a maior banda na estrada naquele ano e “Uprising” estava em todas as paradas da Europa. Era um período de máximo otimismo e estavam sendo feitos planos de uma turnê na América em companhia de Stevie Wonder no final do ano.

No fim da turnê européia Marley e a banda foram para os Estados Unidos. Bob fez dois shows no Madison Square Garden, mas logo após caiu seriamente doente. Três anos antes, em Londres, ele havia ferido o dedo do pé jogando futebol. O ferimento se tornou canceroso e, apesar de ter sido tratado em Miami, continuou a progredir. Em 1980, o câncer, em sua forma mais virulenta, começou a se espalhar pelo corpo de Bob. Ele controlou a doença por oito meses, fazendo tratamento na clínica do Dr. Joseph Issels, na Bavária. O tratamento de Issels era controvertido por só usar remédios naturais e não tóxicos e, por algum tempo, pareceu estabilizar a condição de Bob. Entretanto, repentinamente a luta começou a ficar mais difícil. No começo de maio ele deixou a Alemanha para voltar à Jamaica, mas não completou a viagem.

Bob Marley morreu num hospital de Miami na segunda-feira, 11 de maio de 1981. No mês anterior, Marley havia sido agraciado com a Ordem do Mérito da Jamaica, a terceira maior honra da nação, em reconhecimento à sua inestimável contribuição à cultura do país. Na quinta-feira, 21 de maio de 1981, o Honorável Robert Nesta Marley O. M. recebeu um funeral oficial do povo da Jamaica. Após o funeral - assistido tanto pelo Primeiro-Ministro como pelo líder da oposição - o corpo de Marley foi levado à sua terra natal, Nine Mile, no norte da ilha, onde agora descansa em um mausoléu. Bob Marley morreu aos 36 anos, mas a sua lenda permanece viva até hoje.

Redemption Song (tradução)CANÇÃO DA REDENÇÃO


Composição: Bob Marley

Canção de Redenção

Velhos piratas, sim, eles me roubaram,
Me venderam para navios mercantes
Minutos depois deles terem me tirado
De um buraco menos profundo
Mas minha mão foi fortalecida,
Pela a mão do todo poderoso
Nós avançamos nessa geração
Triunfantemente!

Você não irá ajudar-me a cantar,
Essas canções de liberdade?
Porque tudo o que eu sempre tenho são:
Canções de liberdade,
Canções de liberdade!

Liberte-se da escravidão mental,
Ninguém além de você pode libertar sua mente
Não tenha medo da energia atômica,
Porque eles não podem parar o tempo
Por quanto tempo vão matar nossos profetas?
Enquanto nós permaneceremos de lado olhando
Huh, alguns dizem que é apenas uma parte disto
Nós temos que cumprir inteiramente o Livro

Você não irá ajudar-me a cantar,
Essas canções de liberdade?
Porque tudo o que eu sempre tenho são:
Canções de liberdade,
Canções de liberdade,
Canções de liberdade!

Liberte-se da escravidão mental,
Ninguém além de você pode libertar sua mente
Oh, não tenha medo da energia atômica,
Porque eles não podem parar o tempo
Por quanto tempo vão matar nossos profetas?
Enquanto nós permaneceremos de lado olhando
Sim, alguns dizem que é apenas uma parte disto
Nós temos que cumprir inteiramente o Livro

Você não irá ajudar-me a cantar,
Essas canções de liberdade?
Porque tudo o que eu sempre tive foram:
Canções de redenção!
Porque tudo o que eu sempre tive foram:
Canções de redenção!
Essa canções de liberdade,
Canções de liberdade!

Redemption Song ( Composição: Bob Marley)


Old pirates, yes, they rob I,
Sold I to the merchant ships,
Minutes after they took I
From the bottom less pit
But my hand was made strong
By the hand of the Almighty
We forward in this generation
Triumphantly

Won't you help to sing,
These songs of freedom?
'Cause all I ever have:
Redemption songs,
Redemption songs!

Emancipate yourselves from mental slavery
None but ourselves can free our minds
Have no fear for atomic energy,
'Cause none of them can stop the time
How long shall they kill our prophets,
While we stand aside and look
Huh, some say it's just a part of it:
We've got to ful fill the Book

Won't you help to sing,
Rhese songs of freedom?
'Cause all I ever have:
Redemption songs,
Redemption songs,
Redemption songs!

Emancipate yourselves from mental slavery
None but ourselves can free our mind
Oh, have no fear for atomic energy,
'Cause none of them-a can-a stop-a-the time
How long shall they kill our prophets,
While we stand aside and look?
Yes, some say it's just a part of it:
We've got to ful fill the Book

Won't you help to sing,
These songs of freedom?
'Cause all I ever had:
Redemption songs,
All I ever had:
Redemption songs!
These songs of freedom,
Songs of freedom!

Aniversário de Bob Marley-*****



Nesta sexta-feira, 6 de fevereiro, o rei do reggae completaria 64 anos


Numa pausa das risadas, Bob Marley ficou subitamente sério. “Eu vou morrer aos 33 anos, idade de Cristo”, disse aos amigos com quem se refrescava sob a sombra de uma árvore, em Nine Miles, interior da Jamaica. Todos se entreolharam assustados, aquilo não era normal. Muito menos vindo de um adolescente, com 14 anos recém-completados. Na Jamaica, soava mais estranho ainda: dificilmente um jamaicano fala em morte. No rastafarianismo, segunda religião mais popular na ilha (atrás do protestantismo), até Deus é vivo.



Marley passou perto: morreu de câncer aos 36 anos de idade. Há quem diga que esta fala – reproduzida na biografia oficial, “Queimando Tudo”, de Timothy White – seja um indício da vocação auto-infligida a salvador da humanidade. Se Marley, tal qual os Beatles, é comparável a Cristo, não cabe discutir. Mas que seu legado cultural, religioso, político e – claro – musical tem peso incomparável, isso tem. Desde que Bob Marley morreu, suas ideias cresceram, dominaram mentes de novas gerações, renderam devoção quase religiosa de gente tão diversa quanto Mano Brown, Paul McCartney e Stevie Wonder.

Mas, para seguir a linha jamaicana de raciocínio, não é morte o tema desta matéria. O rei do reggae completaria 64 anos nesta sexta-feira, 6 de fevereiro. E se ele estivesse aqui para contar a história dessas seis décadas, certamente a história da música – para não dizer do mundo – seria outra. Em seus últimos dois discos, Bob Marley flertou com caminhos inéditos para sua música e visão política. Em “Survival” (1979), cantou uma África embrutecida por guerras civis, pediu que o mundo olhasse para os pobres e se disse um guerreiro sobrevivente da escravidão. Foi seu álbum mais contundente. Não à toa, a 14 de abril de 1980, Marley foi convidado para tocar na independência da Rodésia que, também não à toa, adotaria o nome “Zimbábue”, título de uma das mais importantes músicas do rasta.




No seu último disco, “Uprising” (1980), Bob Marley se aproximou musicalmente do pan-africanismo radical de Fela Kuti. Fez um afrobeat (“Could You Be Loved”), ressuscitou o ska, ritmo pioneiro da Jamaica (“Bad Card”) e, pela primeira (e última) vez na vida, gravou uma faixa só com voz e violão (“Redemption Song”). Em um tom melancólico, Marley disse que tudo o que teve na vida foram “sons de liberdade, sons de redenção”. Verdade... Em parte. Marley também teve 11 filhos com oito mulheres diferentes; teve músicas gravadas por artistas do mundo inteiro; teve uma mansão/comunidade em Kingston; teve legiões inacabáveis de seguidores; teve dois discos de platina; foi o primeiro artista do Terceiro Mundo a ser aceito no Hall of Fame do rock; teve dinheiro, fama e sucesso.





Mas foi um detalhe que transformou o legado de Bob Marley em uma fonte inesgotável de admiração: nem depois de tantas conquistas, ele deixou de ser o rude boy (gíria jamaicana para a juventude do gueto) de Trenchtown. O garoto humilde da favela que pregou o retorno espiritual à África, que denunciou a atualidade da discriminação racial e a vida dura no Terceiro Mundo, com a mesma competência com que cantou o amor, o sexo e a integração racial. Parabéns a Bob Marley que, aos 64 anos, continua jovem e atual.



Conheça os discos que Bob Marley gravou em vida:

Catch a Fire (Island Records, 1973)
Burnin’ (Island Records, 1973)
Natty Dread (Island Records, 1974)
Live! (Island Records, 1975)
Rastaman Vibration (Island Records, 1976)
Exodus (Island Records, 1977)
Kaya (Island Records, 1978)
Survival (Island Records, 1979)
Uprising (Island Records, 1980)